segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ainda reclamando, Louis?

Alguma vez, ou, sei lá, algumas vezes, na vida, nessa vida, você se viu numa situação tão degradante, ao ponto de se sentir o ser mais ridículo da face da Terra, isso levando em consideração o lugar comum de que a humanidade, em seu sentido mais amplo, e mínimo, está completamente perdida, logo se encontrar na condição de ser - humano torna o seu fardo ainda maior, e mesmo que você pense na aparente solução mais fácil, que seria a de simplesmente desaparecer, não reduz sua aflição, tendo em vista que nada, ou pouco, se sabe sobre o que vem, ou não, após o último piscar de olhos, principalmente se foi você mesmo o responsável direto por isso, o que, para muitos, significa adquirir uma passagem, na classe econômica, com condições de tempo sem total condição, para o inferno, lembrando que dizem lá ser pior que aqui, ou que aqui está pior do que lá, ou que lá e aqui é tudo a mesma coisa, sendo assim nada do que você fizer vai ser de grande valia, ou de pouca, só pra não perder o fio da meada, já perdendo, a noção, ao ponto de você sentar pra escrever, o que está escrevendo, sabendo que ninguém vai ler, só por escrever, através de uma máquina, que cisma em te deixar na mão, quando você mais precisa dela, e a simples lembrança de que um pensamento atrai, te faz concluir que o mais ideal é parar por aqui, antes que a merda bata no ventilador, o qual é tão conveniente nesse calor desgraçado, e aí você começa a pensar que na realidade, tem gente bem pior que você, de verdade, é claro, e com todo esse papo da fome, das guerras, o melhor que você pode fazer é desligar o computador, tomar aquele remedinho milagroso, deitar e esperar um novo dia, sempre velho?



É.
Eu também.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pinguinhos de Vermelho


Hoje, sei lá porque, e mais do que nunca, eu senti saudade de você. Uma falta enorme da tua companhia. Do teu jeito de ser, de me tratar, de levar a vida. Tu sempre teve essa mania de se preocupar com as coisas. Além do necessário, do esperado. Mas naquela época, tua cuca era mais fresca, mais leve.


Bons tempos eram aqueles - me confidenciasse certa vez - em que tu acordava pela manhã, corria pra cozinha, atrás daquele cheirinho de café, de ovo frito estalado, pão assado saindo do forno. Pés descalços, cabelos soltos ao vento, ainda de pijamas, tu se sentava à mesa e sorria feliz. Olhava os rostos ao redor com certa ternura e uma grande dose de respeito. Com um pouco de temor também. Afinal, eram todos tão diferentes e ao mesmo tempo... tão iguais. Quanto ao restante do dia... haviam obrigações a serem cumpridas. Nessas horas teu humor variava, tua timidez era testada ao limite, tu sabia que ia ter que se esforçar e fazer algumas coisinhas que não te agradavam de um todo. Então tu racionava e concluia que deveria ser assim com todo mundo, e que tinha era muita, mas muita sorte de ter pais que te amavam, ainda que não fossem tão gentis e atenciosos quanto tu desejava.

O melhor de tudo era quando a gente engabelava o tempo pra se encontrar lá atrás, no quintal, perto do pé de fruta-pão. Eu chegava correndo que dava gosto de ver. Tinha dias em que eu te presenteava com uma carambola, uma manga-espada docinha, que a gente rasgava com a boca e dividia, rindo dos fiapos que teimavam em enfeitar nossos dentes. Tu me olhava sem malícia, essa malícia de agora, e me perguntava se eu tinha hora pra ir. Eu sempre respondia que não, mesmo sabendo que sim. Era tua meiguice em excesso que me fazia querer ficar até não poder mais, ainda que com o estômago roncando, os olhos puxadinhos de sono. Ficar contigo era bom. Tu não tinha medo de quase nada. Tu cantava alto, gritava quando corria, mijava de rir, achava que sexo era nome de pedra. Teu único vício era bolacha cremicráquer com goiabada. Teu maior desejo era simplesmente... ser feliz.

Foi lá, sentada naquela cadeira, olhando as árvores que outrora cercaram nossa antiga escola. Que eu lembrei de tu. Pensei em te ligar, eu nunca esqueci dos sete números do telefone da tua casa, sabia? Nem do nome da rua, da cor do muro, das papoulas vermelhas, do quartinho de costura, do teu avô sentado na cadeira de balanço, da coleção de Dickens, capa vermelha, Monteiro Lobato; a bíblia da tua avó, a vizinha do lado, a "nossa" Bruxa do 71. Queria que tu me olhasse agora e me dissesse se eu sou do jeitinho que tu imaginasse que eu seria. Se é que tu um dia chegasse a fazer isso.

Acima de tudo. Eu queria mesmo era ganhar um abraço teu. Te ouvir me dizendo pra não chorar demais, pros olhos não ficarem inchados. Tenho quase certeza que dessa vez era tu que ia me arrastar pra frente da tv, saco de algodão doce cor de rosa. E eu nem ia te avisar que o Sílvio Santos enlouqueceu e mudou, de novo, o horário de Chaves.

sábado, 8 de agosto de 2009

Nem defeito, nem qualidade

Então eu sonhei assim.
Que um vampiro gostava mim.
Gostava. E amava.
E eu? Eu não gostava dele.
Nem nada.
Nada não. Tinha a tal da atração.
Mas não era por ele.
Que batia meu coração.
Eu estava afim era de um cara.
Um cara alto e de cabelos castanhos.
Quase ruivos.
E olhos cor de mel.
Ou eram verdes?
Sei lá.
Só sei que gamada eu fui.
Fui pela rua de pedras.
Pelo caminho de barro.
Pelo campo descampado.
Até chegar à beira do rio.
Onde todos brincavam.
E chamavam.
Por mim.
Mas eu não ia.
Tive medo da água escura.
Lembrei da minha infância.
Lembrei das sanguessugas.
Acontece que uma menina estabanada.
Me puxou pelo braço.
Ela queria que eu mergulhasse.
Que perdesse o medo do desconhecido.
E mesmo resistindo eu fui.
Primeiro um pé. Ponta do dedo.
Da mão. Água doce. Doce mesmo.
Doce que nem o algodão doce.
Cor de Rosa.
Da Rua Pinto Júnior, 48, Prado.
E eu ri. Ri muito.
Olhei para trás.
Meu amor me chamando.
Com mãos convidando.
Uma dança.
E a gente dançava, dançava, dançava.
Embalados por uma canção.
Que o Chico fez pra mim.
Fez não. Reescreveu.
Ah! Fez sim.
O chão úmido, de grama molhada.
Pés suspensos.
Eu mirando.
No exemplo.
Das mulheres.
Como eu.
Não mais de Atenas.
Mas que viviam pelos bravos guerreiros.
Dos belatos meus.
Que acordei.
Cantando a letra.
Ouvindo o som.
Ainda a sentir o cheiro.
Do amado.
Tu.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cuidado: Frágil

Primeiro, aquela coceirinha gostosa, eventual, de fazer revirar os olhos. Nessas horas, nada como um bom cotonete pra ajudar a aliviar e, porque não dizer também, aumentar o prazer. Segundo, a perigosa combinação entre alergia atópica, inverno recifense e umidade, muita, muita, muita umidade.

Sempre fui meio afoita com relação à limpeza do ouvido e jamais obedeci aos conselhos dos especialistas. Fazia questão de enterrar o bastão e retirar toda a cera encontrada, sem medo de ser feliz. Cheguei ao ponto de esquecer, por diversas vezes, que o objeto encontrava-se estacionado na entrada do salão, quando de uma interrupção externa, como um chamado a ser atendido, uma porta a ser aberta, e por aí vai. Numa dessas ocasiões de perigoso esquecimento machuquei pra valer meu tímpano esquerdo. Resultado: além do sangue derramado, uma leve diminuição na audição e na fabricação da cera. Menos proteção. E mais vergonha na cara. Certo? Errado. Durante os anos conseguintes, aprimorei o ritual, acrescentando à auto limpeza elementos como tampas de caneta, limpador de cutículas, grampos de cabelo, cabo dos óculos, assim como o infalível e sempre coberto de germes, dedo mindinho. Passei da linha reta ao ângulo de 360°. Acredite, isso é possível.
Vez ou outra eu adquiria uma otitezinha mea boca. Nada que umas gotinhas de otosynalar não amenizassem. Fui levando assim, os meus inúteis 27 anos de vida, nessa existência (e tem outra?). Até que semana retrasada, la vie, essa vadia inconstante (inspiração Lost), pegou-me de jeito. De mau jeito, que se diga. Após passar 7 dias sem dormir direito, acordando de meia em meia hora, com uma dor de cabeça quase insuportável, deixei de lado a teimosia e fui-me embora pra Pasárgada. Tive a boa sorte de conseguir uma consulta de urgência, numa manhã de segunda-feira, perto de casa (valeu aê Pai, pelo plano de saúde!!!). Tá certo que eu tive de esperar uma hora e meia pra ser atendida, mas a médica foi tão gentil, e o local era tão agradável, que só pude me sentir mais do que agraciada nesse mundão imundo. Simpática, a doutôra de longos cabelos pretos e olhar doce me recebeu como que a uma conhecida de longas datas, perguntando minha idade e dizendo que eu tinha cara de bebê (ohr!). Fez as perguntas de praxe e partiu pra o exame de fato. Fiquei com receio de que ela me dissesse que eu não tinha nada, que era tudo psicológico. Tenho escutado essa afirmação com certa regularidade ultimamente, sabe. Mas não. Não era psicológico. Isso ficou bem claro quando a mesma exclamou Nossa Isabel! O negócio tá feio, viu? Péssimo! Seu ouvido direito está a ponto de sangrar! E esse esquerdo de que você se queixa mais, nem se fala!
Voltei pra casa com a incumbência de seguir rigorosamente as instruções, conselhos e proibições. Ministrar os remédios como recomendado, nada de carne de porco (nem te ligo!), 15 dias sem fone de ouvido, mergulho e lugares barulhentos. E, claro, nem pensar, mas nem pensar em usar um cotonete sequer! Fico pensando na reação da médica se eu houvesse contado-lhe que, no auge do meu desespero, até pomada de penicilina eu introduzi nos meus canais auditivos. E álcool à 70%. Ah! E soro fisiológico.Também. Foi quando fiquei mouca de vez. Me desesperei, chorei sentada na bacia sanitária, minha irmã me abraçando, dizendo que tudo ia ficar bem, que eu me lembrasse da sua última suspeita, com relação ao câncer de pulmão que ela jurava ter adquirido. E que não foi. Dos desafios, certamente o maior de todos foi ter de ficar com algodão nos ouvidos, 45 minutos, no decorrer do dia. Hmmm.. se bem que em muitos momentos, essa prática revelou-se uma dádiva. Minha justificativa para não atender aos que chamavam-me com o intuito de encher-me a paciência.
Música? Tive de me contentar com os poucos momentos em que pude ligar o rádio, durante os banhos tomados antes de dormir. Fora que Recife é uma cidade multicultural. Em cada esquina tem um techno brega a infernizar. Um forró a embalar, uma swingueira a escandalizar. E Thriller. E Billy Jean. E Beat It. Black or White. E Bad. Sim, We Are The World! Não liguei muito quando meu adorado pai sugeriu que um dos motivos da minha cruel convalescença teria sido o show de rock que assisti no Domingo anterior à minha ida ao consultório. De fato, não foi como imaginei. Não tivemos muitos hits "sonzeira". Mas escutar, de supetão, Don't Look Back in Anger (ainda que não muito bem executada), fez tudo valer a pena. E o jeito como tocaram Wish You Were Here! Deixando-nos em total estado de graça... a transceder, With or Without You... Uaaaaaaau! Contou por toda a semana do rock, sem rock em seu estado bruto. Quanto aos bastonetes satânicos? Mantenha distância.


sábado, 11 de julho de 2009

O muito do pouco que eu tenho para lhe dar


Eu acredito, melhor, eu sinto que uma das piores coisas que pode nos acontecer é vermos alguém sofrendo, ali, do nosso lado, e não podermos fazer absolutamente nada pra ajudá-la. Refiro-me não apenas às ações ditas "concretas", como também às de curto prazo, imediatistas. Um abraço apertado, um pegar na mão, uma palavra de conforto, um "vai melhorar, o tempo cura tudo".


Sou péssima no ato do consolar. Fico sem ação, simplesmente não sei o que fazer. Sinto-me uma idiota, uma inútil. É questão de falta de habilidade mesmo. Daquelas que adquirimos com a prática do receber e perpertuar. Tenho até vontade de assaltar a dor do outro, destroçá-la com toda a minha revolta e atirá-la ao mais profundo dos abismos. Sem proferir uma frase de efeito que for. Simples e prático. Imagina como seria maravilhoso poder fazer isso. Mas não dá, né? Infelizmente. Ou felizmente, sei lá. Porque se pensarmos direitinho, o sofrimento alheio não nos pertence. No sentido literal do negócio. Essa parada de se colocar no lugar do outro na tentativa de compreendê-lo é muito válida, de verdade. Talvez isso nos torne menos egoístas e mais, digamos, humanos. Só que no frigir dos ovos, por mais que tomemos para nós o pouco que nos é permitido, nunca iremos sentir na pele e no coração as aflições que não são "genuinamente" nossas. Até quando compartilhamos da mesma tragédia, do mesmo azar. Cada um reage de uma maneira distinta à um tapa na cara, à uma sucessão infinita de "nãos", à perda gradual do acreditar. Aquela besteirinha que denominamos fé, sabe. Não necessariamente religiosa. E que sem a mesma, vamos, aos poucos, perdendo a graça de viver.

É possivel continuar seguindo adiante carregando a melancolia na mochila do cinismo, bem acomodados na bagagem da precaução, posteriormente guardados no cofrinho da amargura, que fica escondidinho no depósito do ceticismo. Tá, eu sei que isso soou meio brega, mas vá lá que seja. Então. Sim, é possível. Mas é triste, num é? Sobreviver esperando o pior. Superando, passando por cima, absorvendo, tornando-se um alguém solitário, que carrega consigo a pior das solidões: àquela advinda da porcaria que as circunstâncias nos reservou.

Tem gente que é bondosa de verdade. Já inclusa a maldade inerente à todos os seres vivos. O miolo desse tipo de pessoa é recheado de gentileza, altruísmo, bem querer, compreensão, além de uma boa dose de ingenuidade. Nós percebemos só de observá-la. Nos pequenos gestos adquiridos com o passar da idade. Na preocupação com o sentimento conquistado, ou que está a conquistar. Questão de caráter, seja lá como você encare isso. Esses indivíduos costumam perdoar as cagadas jogadas em seus ventiladores com uma sinceridade bela de se observar. Acreditam em pedidos de desculpas. Sabem que estão predipostos a cometer erros. Inevitavelmente, os cometem. E, honestamente, arrependem-se. Refletem, buscam melhorar. Esforçam-se tanto que a prática acaba tornando-se um fardo, especialmente quando não correspondida. É natural, somos diferentes. Ninguém é obrigado a nos dar exatamente aquilo que oferecemos. A experiência nos ensina a termos paciência e a gostarmos do que está presente, muito mais do que poderia ser.

Entretanto, quando a exceção torna-se regra, desde sempre, desde o começo, é bem provável que a bondade transforme-se em carência. As decepções sucessivas vão minando a alma do bondoso. Um dia, ele percebe que as mesmas não o atigem com tanta força. E, antes que se dê conta, quando não há mais nada que se possa fazer, ele está morto. Outrora magoado. Hoje, entorpecido. Amanhã, desaparecido de si mesmo. Uma pena. Verdade verdadeira. Já vi de perto essa metamorfose maldita. Acompanhei alguns de seus estágios. Ocorridos com amigos, conhecidos, desconhecidos. Tentei ajudá-los da minha maneira desastrada. Escrevi-lhes cartas, pequenas mensagens. Ouvi seus desabafos. Os falados. Os silenciosos. Chorei com eles. Por eles. Por mim. Por nós. Fiz mais do que poderia e menos do que deveria. Fiz o que pude. Nem sempre é suficiente.

Como mencionei anteriormente: o outro é que sente. E é valido deixar rolar também. Mostrar que, apesar de não possuir a solução, você está do lado, respeitando o metabolismo que difere do seu. Contando piadas sem graça, cantando desafinado, dormindo tarde por causa de uma conversa inesperada. Quem sabe isso não faz diferença? Quem sabe... Ontem, passando por cima do ciúme, eu pedi ao meu Deus uma forcinha. Implorei por um pequeno milagre. Só daquela vez. Que custava? Bem, eu sabia o que poderia acontecer se não fosse atendida. Foi mesmo o máximo e o mínimo que eu pude fazer. Entre feridos, nenhum morto. Os moribundos ainda tem salvação. Eu acho. Eu sinto.
Eu vi. Pensou que não?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meu tio me deu um livro



Já tô na página 68. Logo logo vou descobrir o segredo do meu fracasso. Yep!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Who's bad?

O Michael Jackson mórreu. Fiquei chocada, mas com aquele sentimento de que mais cedo ou mais tarde isso poderia acontecer. A gente sabia que ele nunca foi um exemplo de ser humano saudável. Pelo contrário. Foram tantas as doenças, confirmadas ou não. Problemas de ordem pessoal que tornaram-se mais públicas que a vida sexual da Paris Hilton. Não é de se admirar que depois de tanta merdalhada excretada, o Rei do Pop fosse destronado por um ataque cardíaco. O coração suporta muita coisa, mas quando a cabeça é tão bagunçada quanto o guarda roupa da minha irmã, a coisa complica pra valer.

Por falar nela, estávamos a vagabundar na frente da televisão, agora pouco, quando o aparelho do quarto da minha mãe (que sempre se encontra em volume equiparável ao das carroças que vendem cd's piratas nas ruas) começou a despejar no ar mais e mais músicas do astro. Desde ontem tem sido assim. Quando alguém beeeeeeeem famoso como ele "desaparece" (eu odeio quando dizem isso; fulano desapareceu... parece até que foi sequestrado, que nem o Narcisinho) e um canal não passa 24 horas falando sobre o fato, estranhamos. Afinal, nós, que possuimos um lado voyeur e fofoqueiro para tudo que se possa supor, queremos saber cada detalhe. Como foi, está sendo e será. Mas pelo amor de Deus. Chega um momento que a super exposição enche o saco. E o de Cecília já transbordou. Não à toa, ela se vira pra mim e pede desculpas por não suportar mais ouvir uma noticiazinha, musiquinha ou coisinha que fosse sobre a vida e morte do eterno menino prodígio que nunca quis virar adulto. Eu sou um monstro por pensar assim? Respondi com risadas, das risadas que ela conhece como um eu entendo você. Fiquei pensando. Em todas as palavras que utilizamos para exprimir o que sentíamos cada vez que um escândalo era anunciado nos últimos anos. Repulsa, pena, descrença, e por fim, esperança. De que o mundo que o admirou e idolatrou pudesse voltar a sentir orgulho pelos acontecimentos que o moldaram e transformaram em um artista máximo naquilo em que era um verdadeiro especialista.

Mas... agora ele se foi. A morte desse e de muitos outros ídolos tem seu lado bom e ruim. Perde-se a lacuna do futuro, exalta-se o brilhantismo do passado e esquece-se a tragédia do presente. Sabe minha irmã... não acho que você seja um monstro. O falecido sim. Esse o era e sempre será. Um monstro sagrado da música, da dança e das inovações midiáticas. E é isso que importa agora.



Thriller, 1982.

Não fuja da raia. E sempre diga alô

Ontem eu acordei cansada pra dedéu. Desses cansaços que fazem o cérebro sinalizar uma greve de advertência. Quando fico assim, geralmente passo o dia muda, quase não troco uma palavra com ninguém. Por preguiça mesmo. Eu já não falo muito. Imagina nessa situação. Só abro a boca com prazer se for pra devorar um bom (ou não) prato de comida, bocejar, beber água e escovar os dentes. Depois do café da manhã e antes de dormir, né, que eu não sou besta nem nada. Que minha dentista não fique sabendo. Mas vai ser difícil esconder esse fato quando ela for examinar minha arcada dentária e encontrar trinta e duas cáries. Trinta e duas não, vinte e oito. Já contando com restaurações anteriores. Assim como os molares superiores e inferiores que já foram parar na sacola da fadinha dos dentes há um certo tempo. Bobági. Chegando lá vou alegar que tenho baixa imunidade bucal. O Ph da minha saliva é doentinho, não aguenta vestígio nem de folha de alface. E olha que eu uso fio dental diariamente, palavra!

Ainda assim, por mais que eu tente fugir da raia, existem aqueles pormenores dos quais não dá para escapar. Ter que responder a mesma pergunta que minha mãe faz umas seis vezes, por exemplo. Ela é insistente, a criatura. Ou atender às chamadas telefônicas que ninguém se propõe a fazê-lo. Sempre tem um momento do dia em que o povo resolve fazer tudo ao mesmo tempo. É um que está cagando, outro que está vendo algo na tv e que não pode ser interrompido nem sob ameaça bio nuclear. E têlêlê têlêlê têlêlê... sobrou para o "desocupado" do momento. No caso, moá. Acontece que exatamente naquela hora, ou melhor, desde algumas horas antes, eu vinha cantando mentalmente algumas canções, para não enferrujar a cuca. E para espantar os males também. Entre elas estava a música "Bad Things", tema de abertura da série norte americana True Blood. Acho-a sexy, carismática. Fora que me remete às cenas dos últimos episódios dessa ótima segunda temporada que acabou de começar. E que está foda.

Entre um verso e outro, me fixei na frase do refrão principal: I wanna do bad things with you. Dentro da minha cabeça. Repetidamente. Puxei o gancho do telefone. Mexi os lábios. I wanna do? Silêncio. Percebi a merda que fiz. Humm.. a-alô? Do outro lado, a moça da Associação de Cegos que nos liga todo mês com o intuito de nos lembrar da "contribuição" que contribuímos... todo mês. Nem reconheceu minha voz. Logo ela que toda vez me cumprimenta com um Olá Isabel, como você está, tudo na paz? antes mesmo que eu me identifique. Mas não guardo ressentimentos, Érica. Nem todo mundo está pronto para a poesia de um alô diferenciado. E musicado também, que se diga.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Inshala meu Pai!

E o Theo Becker continua tocando o terror na fazenda. Ontem foi dia de formação da berlinda. Não deu outra: mandaram o maluco pra roça. Os outros participantes foram praticamente unânimes em sua decisão: querem o galego do lado de fora da cerca. Não que isso já esteja garantido. Afinal, a votação termina no próximo Domingo e quem escolhe o resultado somos nós, fiéis telespectadores. Deveríamos, pelo menos ao meu ver.

O pessoal que apresenta o Hoje em Dia - programa matinal que explora o A Fazenda através de discussões acerca dos "resuminhos" e imagens transmitidas ao vivo - tenta manipular a opinião dos eleitores de casa da maneira mais descarada possível. Mostram os bate bocas, os motivos que os originaram (quas
e sempre tão idiotas quanto àqueles que os suscintaram), fazem cara de reprovação mas, no final das contas, justificam as atitudes tidas como vilanescas. Falam pra gente lembrar que é tudo feito diante de uma enorme pressão, que o louraço beuzebu está sofrendo de amor, tadinhôôô, é impulsivo e não pensa antes de falar.

Vamos imaginar duas possíveis situações: 1 - O futuro representante dos pneus Pirelli é escolhido pra deixar o reality show, a paz supostamente voltará a reinar e todos serão felizes para sempre até que o prêmio de 1 milhão os separe; 2 - Ele fica, evoca os poderes de Greiscow e passa na cara de todo mundo o quanto ele tem a força. Evidente que a segunda opção parece muito mais atrativa, hã? Mesmo que tenhamos de ouvir os milhares de piiiiiiiiiiiiiiiiiiii's utilizados pela edição toda vez que o Theo resolve infernizar a vida de alguém. Não é um palavrão proferido aqui e ali que faz o caráter de alguém, certo? Eu mesma falo porra sempre que topo meu dedinho em alguma quina de parede. Nem por isso você deve me achar uma má pessoa, faça-me o favor! Também não é feio dizer que vai arrebentar o rosto do seu "adversário" ao ponto dele nunca mais conseguir trabalho no cinema e/ou televisão, a não ser que seja interpretando alguém em uma cadeira de rodas. Isso porque só a cara que iria ser quebrada, heim? O que importa é manter a boa audiência, garantida pelas campanhas maciças da Rede Record e, acima de tudo, por nós que dedicamos algumas horas do dia diante da TV, acompanhando tudo isso e muito mais que eu nem vou perder meu tempo citando aqui.

Temos três opções: o valentão Theo, o bundudão Miro e o negão Jonathan. Polêmicos e falastrões todos o são. Mas dentre as gafes e "crimes" cometidos, certamente o de falar mal dos pelos pubianos da mina que acabou de pegar é o pior de todos, fala sério! Nessa o modelo leva a pior. Se eu fosse votar, apertava o botão de confirma assim que a foto dele aparecesse na tela. Fora Miro, menino malvado!

Acontece que tem um pequeno detalhe que a gente não está levando em consideração: quem vai decidir essa parada, meus amigos, é Deus. Isso mesmo! Segundo palavras do próprio Theo Becker será o Todo Poderoso que irá resolver esse entrave. Ele, em alma e luz amém, lá das alturas, vai fazer todas as ligações, vai mandar todos os sms's, vai acessar infinitas vezes a internet e escolhar quem vai e quem fica. Nada de Ana Hickmann, Chris Flores, Celso Zucatelli, Edu Guedes e Britto Jr. Quem está entoando o mantra do "compre a fazenda, compre a fazenda, compre a fazenda e mantenha o gaúcho" é o Senhor lá de cima. E convenhamos: com Ele nem o capeta pode. Ops, nem o Theo Becker pode. Ou será que pode?

















Theo Becker

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O melhor amigo do bicho é o bicho

Há uns quatro dias que eu venho pensando nisso. Não o tempo todo, como quando a gente se apaixona por algo ou alguém e passa praticamente 24 horas com a mente neles. Ao acordarmos, durante o dia, pela noite, de madrugada, nos sonhos e até mesmo nos pesadelos. Oras... eu sou meio assim... maníaca-compulsiva-obssessiva, com um que de neurótica e psicótica. Uma pessoa comum, como todo mundo.

E sendo uma pessoa comum como todo mundo, eu só sosseguei quando finalmente desvendei o mistério que rondava meus pensamentos. Levei esses quatro dias os quais referi anteriormente. Ah, vai! Pra descobrir mesmo, na moral, foi questão de segundos, confesso. Acontece que eu nunca lembrava de buscar a resposta, só me recordava da pergunta. Daí que eu imediatamente questionava os que estavam próximos à mim. Mas eles também não sabiam do que se tratava. E eu voltava a esquecer. De procurar onde certamente iria encontrar.


Tem uns 3 meses que meu pai chegou aqui em casa com um filhote de cachorro. Uma fêmea de aproximadamente 45 dias de nascida. Coisa mais linda, mô Deus. Eu adoro filhotes. Fico ainda mais imbecil quando vejo um, seja na televisão, ao vivo, se eu puder pegar então,
melhor ainda. Filhotes de animais "fofinhos", né? O que exclui a maioria dos répteis e muitas das criaturas que habitam nossos horrendos esgotos. É uma coisa séria essa minha mania. Quando criança, levei altos arranhões de gatos, mordidas de vira latas de rua, "carrêras" de galinha, de bodes, cheguei ao cúmulo de ser atacada por um passarinho ao tentar mexer no seu ninho, coitadinho. Olha que rimou, que bonitinho. E isso não melhorou com o tempo, acredite. Claro que eu aprendi algumas lições, limitando-me a cutucar os bichos que não me atacariam, pelo menos de imediato.

Foi desse jeito que um colega de faculdade fotografou uma amiga e eu com as mãos no dorso de um boi: nós, de um lado, braços esticados, sorrisos nervosos; do outro, o tratador - de bigode farto - todo orgulhoso por exibir seu premiado. E tome demora pra nosso companheiro de viagem conseguir controlar o riso, firmar a mão e acionar a máquina. Foi uma agonia, a gente falando entre os dentes "Booooooooooora! Vai logo antes que ele se arrete e resolva nos chifrar, pô!; enquanto o bigodudo nos dizia pra termos calma, que não era assim, daria tempo de corrermos e evitarmos danos maiores. Que belo.


Mas voltando a Camila Pink. Esse foi o nome escolhido. Meu digníssimo genitor olhou pro focinho dela e achou que Camila tinha cara de Camila. Ficou Camila. Pink em homenag
em ao nosso cachorrinho que morreu no início desse ano, sacrificado, após ser diagnósticada uma doença incurável. Fora que o povo daqui adora colocar "nome de gente" em animal. Vide Sofia (meu amor), Lolita, Rebeca, Pierre, dentre tantos outros. Pois que quando eu avistei Camila Pink pela primeira vez, meu impulso inicial foi pegá-la no braço, falando com voz de adulta abestalhada "ô Papai, uma salsicha!" (opa, muita calma nessa hora). Cor de chocolate, olhar esperto, cheirando a perfume de bebê, Camila Pink chegou chegando, subindo na cama das outras cadelas, comendo da ração, bebendo da água, correndo na garagem e fazendo charme com a cabeça sempre que ouvia um barulho diferente. Preciso nem dizer que ela já conquistou a todos, incluindo o pessoal da padaria, do salão de beleza, dos mercadinhos do bairro. De tantas fotos e vídeos produzidos e exibidos com regularidade. Difícil controlar o ciúme de Sofia, a matriarca que engordou um bocado, tamanho o receio de perder seu status de preferida.

Como Camila Pink ainda é um filhote, carregá-la pra lá e pra cá continua sendo uma tarefa deliciosa e constantemente realizada. É o que eu digo: ela não será pequena pra sempre. Pelo menos no comprimento e na largura. Sem contar que seus dentes não constituem uma ameaça mortal. Por enquanto. Fica fácil chamegá-la, pegar suas enormes orelhas e virá-las pra trás. O que a deixa parecida com um ursinho, daqueles que gostam de comer eucalipto, vivem em árvores e são bastante raros de se encontrar. Toda vez que ela fica assim eu lembro desse ursin
ho. Louca pra saber sua denominação. Tipo: "eita, Camila tá parecida com um daqueles ursinhos que comem eucalipto! Como é o nome mesmo? Heim gente? Como é? Aquele, que é bem lindinho e o nome começa com M, se não me engano!".

É. Eu entrava na internet, fazia tudo e nada de pesquisar o nome do ursinho que gosta de eucalipto e parece com Camila. Não, que Camila parece com ele. Aquele, droga. Quatro dias nesse "couro de pica", como diria minha mãe. Ontem, antes de dormir, disse a mim mesma que um sonho iria me solucionar esse caso. Eu acordaria leve e poderia me concentrar em outra coisa tão séria quanto essa.
Dito e feito. Passei a madrugada sonhando que ia pra uma reserva florestal, de jipe e tudo, olha! Via o tal do animal. E seus filhotes, obviamente. A madrugada inteeeeeeeeirinha. Abri os olhos pela manhã, visualizei o nome na placa do zoológico. Branco. Deu um branco. Voltei a esquecer. Aliás, voltei a não lembrar. Assim como voltei a perguntar, dessa vez afirmando que a letra inicial era K e não M, viu? Acha que adiantou alguma coisa? No decorrer do dia, chequei meus e-mails, o orkut, olhei umas matérias sobre Selton Mello. Desliguei o computador. E o nome do ursinho? Agora Inês tinha ressuscitado. E eu... nada. Posteriormente, conversando com minha irmã (que já havia sido interpel
ada umas 15 vezes), descrevi meu sonho. Ela vira pra mim e diz: "Né um Koala, não?". "Rapaz! É isso mesmo!". Começamos a correr pela casa, rindo que nem umas doidas que acabaram de encontrar uma peça de roupa pertencente ao Jude Law, um dente de ouro do Jonnhy Deep, um diário do Chico Buarque, e por aí vai. Chega fiquei feliz!

Um Koala, quero dizer, Coala. Fiz umas pesquisas, olhei umas imagens. Do marsupiau acinzentado de grandes orelhas que em nada lembram as de Camila Pink. Opa. Que de nada as orelhas de Camila Pink lembram. Mas sei lá. Eu cismei que parecia e pronto. Quatro dias. Uma madrugada inteira. Um monte de gente tendo seus sacos preenchidos com a pergunta que não queria calar. Do ursinho que gosta de eucalipto e ninguém sabia o que era.
















Camila Pink

They'll miss the good old days


"Oh, my ex says I'm lacking in depth

I will do my best
Are you say you wanna stay by my side
Darling, your head's not right
I see alone we stand, together we fall apart
Yeah, I think I'll be alright
I'm working so I won't have to try so hard
Tables they turn sometimes
Oh, someday
I ain't wasting no more time"

Someday, Strokes

sábado, 13 de junho de 2009

We love you


Dizem que quanto mais ele envelhece, mais saboroso fica.






















O Johnny, lógico.
Achou que era o vinho?

Calosandando

Quem se propõe a andar com o calçado inapropriado sempre corre o risco de machucar os dedos.


Mas essa é a graça das caminhadas inesperadas.

Pés sem calos não contam causos.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu sou lunática



























E você?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Do Erico, não do Fernando


E eis que ao término de uma extensa leitura fica àquela sensação de vazio. Saudade dos novos conhecidos, dos que se tornaram melhores amigos. Do ficar imaginando como haverá de ser. E quando o fim se aproxima, você devora as frases com uma voracidade que só a curiosidade é capaz de instigar.

Demorei quase dois meses completos. Foi há umas três semanas atrás que dei meu adeus à Antares, ao coreto e aos mortos. Ainda sinto falta deles. Dos vivos que não morreram e dos defuntos que sobreviveram.

Afinal, foram 485 páginas. Uma relação dessa proporção não se esquece facilmente. Nem assim o desejo. Não vou aqui fazer crítica, resenha, nem nada do tipo. O carinho e admiração que sinto pelo ser humano João Paz, pelo idealismo do Padre Pedro Paulo, pela vivacidade de Valentina, pela ingenuidade de Erotildes e a lealdade de Rosinha, seriam difíceis de descrever. E foram tantas as lágrimas derramadas diante da fatalidade que acometeu Menandro Olinda; foram tantas as gargalhadas que ressoaram na calada das minhas madrugadas, lendo em voz alta as reações ensandecidas dos que acreditaram piamente que o fim estava próximo; foram tantos os dilemas travados, as denúncias escancaradas, o passar do tempo que nunca pára. História e "ficção" ironicamente emaranhados.

Incidente em Antares foi o último livro escrito pelo romancista brasileiro Érico Veríssimo, em 1971. A primeira obra (dele) que li até a última página. Cheguei muito perto com Olhai os Lírios do Campo. Mas a correria da faculdade e as renovações expiradas da biblioteca impediram-me de completar essa missão. Fiquei com a saga do Povinho da Caveira. Sem trocadilhos.

"(...) Nasciam em Antares os boatos mais desencontrados. Ora, um boato é uma espécie de enjeitadinho que aparece à soleira duma porta, num canto do muro ou mesmo no meio duma rua ou duma calçada, ali abandonado não se sabe por quem; em suma, um recém-nascido de genitores ignorados. Um popular acha-o "engraçadinho" ou monstruoso, toma-o nos braços, nina-o, passa-o depois ao primeiro conhecido que encontra, o qual por sua vez entrega o inocente ao cuidado de outro ou outros e assim o bastardinho vai sendo amamentado de seio em seio ou, melhor, de imaginação em imaginação, e em poucos minutos cresce, fica adulto - tão substancial e dramático é o leite da fantasia popular - começa a caminhar pelas próprias pernas, a falar com a própria voz e, perdida a inocência, a pensar com a própria cabeça desvairada, e há um momento em que se transforma num gigante, maior que os mais altos edifícios da cidade, causando temores e às vezes até pânico entre a população apavorando até mesmo aquele que inadvertidamente o gerou".

(Verissimo, pág. 117-118, 1971)


E que venha a minissérie!

Pois foi, foi


Então iria ser assim: ela entraria na livraria, compraria o dvd e voltaria o mais rápido possível. O dia tinha sido cansativo. E ainda sobravam algumas horas a serem aproveitadas fora de casa.


No início, ela relutou. Não queria aceitar o dinheiro que acabara de cair do céu, assim, de repente, pegando-a de surpresa. Sabia que por detrás daquela "oferenda" haveria cobrança e "passação na cara". Mas oras, que se dane! Isso acontece o tempo todo mesmo, pensou. Era por uma ótima causa. Ela desejava que aquele filme fizesse parte de sua coleção há muito tempo. Já estava mais do que na hora.

Foi-se. De braços dados com a irmã, pipoca doce murcha em mãos e a nota. Procuraram, ambas, em todos os locais indicados. Nas prateleiras habituais. Nada. Nos balcões. Nada. Na sessão de seriados. Muito menos. O telefone toca. Queriam saber o motivo de tanta demora. Explica-se. A ligação cai.

Sentindo o estômago pesado devido os excessos do almoço comemorativo (como se isso fosse desculpa, a "comemoração"), sobe a escada que leva ao andar de cima. Ali sim. Não era possível que não estivesse ali! Reiniciam a busca. Comédia. Hummm, não. Terror. Não. Ficção, Clássicos, Cinema Europeu, Novidades, Documentários... Cinema Brasileiro. Não, não, não, NÃO. O celulares vibram. Disseram que está na parte térrea, perto das revistas. E olha que ela nem sabia que essa "parte das revistas" existia. Achou estranho. Ficou parada, olhando para a cara estarrecida da irmã que, impaciente, insistia, em vão, que recorressem à algum atendente. Nossa, que delícia esse leite condensando concentrado no fundo do saquinho... adoro essa música que tá tocando agora... ei! Despertada de seu transe, abruptamente, por meio de sacolejadas nos ombros, ela dirige-se até o balcão de informações, à caça de alguém que as auxiliasse na complicada tarefa de encontrar o escorregadio objeto. Espera algum tempo. Todos ocupados. A recepcionista chama alguém pelo interfone e antes que a mesma pudesse dar-lhe alguma resposta, ela sorri irritada e se vira.

E o vê. Vindo em sua direção. Alto. Nem gordo, nem magro. Pele morena. Nem tão escura, nem tão clara. Uma cor meio de jambo, sabe. Cabelos lisos, castanhos. Os olhos esverdeados encobertos por uns óculos legais. Uma barbicha rala brotando do queixo. E um sorriso. Logo ela, que tinha mania de se perder, também, nos sorrisos. E aquele sorriso cordial, sinalizando um posso ajudar?, pareceu tão perfeito naquele momento, que ela ficou sem ar por um instante. Quase esquecendo do que deveria perguntar. Permaneceu daquela maneira, contemplativa, enxergando luzes de neon, ouvindo o que proferia em câmera lenta. Er... vooooooooooooocê saaaaaaabe dizeeeer se (que fofo ele!) se teeeeeem um filmeeeeeee chamaaadoo PulpFiction? (aqui ela procurou falar mais rápido, sabem os deuses porquê). Ele sorri novamente, vai até o computador, faz uma busca. Sim, temos sim. Ela olha para a irmã, que percebe seu encantamento. Perguntam o preço. Muito mais caro do que poderiam pagar. Maaaaas eu sooooube que tem (o que dizer?) umaversãomaisbarataàvendaaqui... Ele olha para ela, sorri aquele sorriso de novo e responde que não, que ela estava enganada. E sugere um outro filme para compensar a aparente frustração, falando meio assim, como se ela não entendesse dessas coisas, ué. Ela agradece com um movimento sensual de cabeça (pelo menos ela tenta) e sai dali acanhada, lentamente, entorpecida.

Ééééé! Eu vi você viu? Toda "assim" pro lado do atendente!
Eu não.
Uma graça ele... só não é mais bonito que o meu "cara Superbad"...
Heim?
Aquele! Da sessão de cd's...
Ah! hahaha.. é mesmo! Se parece! Mas esse moreno é mais gatenho...
Ele faz mais teu tipo. Mas eu vi primeiro...
(mulher tem dessas coisas, essa sede por patentear)
Que viu que nada!
Vi sim! Ele tava sentado...
Num banquinho lá perto da escadaria do shopping. Eu sei, eu vi também. Toma pra tu.
Tava almoçando...
Então. Mas eu já tinha visto ele antes disso. Na verdade, eu sempre vi. Desde as primeiras vezes que a gente veio aqui. Papai até bateu um papo com ele uma vez. Perguntando sobre como que se fazia pra trabalhar aqui e tal...
Menina! Quando foi isso?
Ah, naquele dia que eu mostrei "Vigiar e Punir" pra papai.
Sua danadinha...
(olha aí a importância do ver primeiro)
É... eu até fiquei me sentindo meio safada na hora, por estar olhando com milésimas intenções.
Porque?
Porque eu era uma moça comprometida, oras!
Eita! E tu ia deixar de olhar por causa disso, é?
Deveria... não?
E deixasse de olhar?
Tu acha? hahahaha

Decidem separar-se. Dar uma última olhadela. Quem sabe? Ela termina de comer seu petisco e joga a embalagem no lixo. Percorre com os olhos cada cantinho da loja. Encontra livros que gostaria de comprar. Outros que só de graça e olhe lá. Desistem. Vai ver o moreno tinha mesmo razão. Enquanto encaminham-se até a porta de saída, mais um telefonema. Dessa vez a informação que vem do outro lado é clara e certeira. É no fundo da livraria, meninas! Ok. Fundo da livraria. Aí que, de repente, ela perde o chão.

O dinheiro!
Que tem o dinheiro?
TAVA JUNTO COM O SACO DA PIPOCA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E cadê?
EU JOGUEI NO LIXO, POOOOOORRA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Fudeu! Agora fudeu!
FUDEU TUDO! QUE É QUE EU VOU DIZER??????????????????????????????????????????
Tu num lembra em que lixeira jogasse não?
não...

E ela fica ali. Atordoada. Rindo à toa. Desesperada. Louca. Até que a irmã (benditos sejam os frutos da vossa esperteza!) encontra a cédula, dobradinha, intacta. Alívio geral. Risos. Compram o dvd e saem da livraria. Renascidas. Ressarcidas. A irmã fazendo graça. All you need is love. Passam-se alguns minutos. Ela volta a ouvir música. Pensando na burrada que tinha feito. Mas sentido-se bem. Sentindo-se mulher. Pela paquera. Pelo sorriso. Pelos 20 reais quase perdidos.

Homem nenhum vale 20 reais jogados fora! Se ao menos fosse compartilhado, né não?
Claro.


Ela já sabia


Pois né que ela tinha mesmo razão, aquela danada? Parece até que sabe das coisas, a mulher.

Pois né que ela sabia mesmo!
Eu é que sou teimosa.

Oh, Vida!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Em transe


É ver
quem está do seu lado
com gana
de
viver
enquanto você

pensa
em
permanecer
na
zona confortável
do
sofá da sala
sozinha
sentada
no banquinho do
banheiro
lendo
um livro
na cadeira
de
balanço
ouvindo
música
na cama
calada
no escuro
da
madrugada

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ode à Estirpe Compartilhada


Eu não sei lidar com a perda. Jé me dei conta disso há muito tempo. Desde a primeira frustração. Do primeiro afeto não correspondido. Da primeira inclinação à indiferença. Desde o primeiro ser vivo que me deixou, levado pela mão da vida. Ou pelo sopro da morte.
Não é a dor da saudade que me consome na maioria dos casos. Sinto falta da presença de alguns que se foram com a certeza de nunca mais voltar. Mas estes... estes foram muito poucos. Os abandonos que mais corroem a minha vaidade são àqueles que disseram um adeus feio, isso quando muito. E estes... Ah, estes! Estes foram tantos. Frequentes. Permanentes.

Como viver, sempre à espera do inevitável
fim? Como prosseguir de cabeça erguida após uma sucessão de "foi legal enquanto durou mas você não é suficientemente boa para que eu continue a tentar mover as mesmas montanhas de outrora"? Palavras não proferidas diretamente à mim. Mas percebidas no olhar. No gesto. No desmoronar de um castelo construido, uma casa projetada, um acapamento levantado. Observei com a alma paciente e a mente desconfiada. Um sorriso calmo sufocando o grito. Um misto de insegurança e desdém. A ambiguidade calculada de quem aprendeu a viver desejando o tudo, e aceitando os pedaços.

Estruturei ao longo dos anos uma personagem hipócrita. Com o outro. E, acima de tudo, comigo mesma. Aceitei de bom - e mal grado -
idiossincrasias das quais eu não concordava, mas que julgava capaz de conviver e até mesmo de moldá-las ao meu gosto. Disse sim em nome de princípios, esperando ser recompensada pelos sacrificios, ao invés dos benefícios. E assim, no colocar e tirar das máscaras, perdi a mim mesma, sobrevivendo às custas do amanhã, sacrificando o hoje e anulando o ontem. Conformei-me com a rotina desgastante do nunca colocar-me em primeito lugar, fingindo não sentir o que sentia (ou fingindo sentir); buscando ser a melhor. Filha, irmã, amiga, colega, namorada. O porto seguro das barcas estrangeiras, dos navios piratas, dos contrabandistas esquivos. Àquela que sempre perdoa, não importam os insultos. A que releva o descaso por lealdade e sinceridade de caráter.

Foi por medo do não reconhecimento que fiz papel de madura antes do tempo. Que tomei para mim as responsabilidades. Que exigi, através de cobranças silenciosas. Que amei. Odiei. Rejeitei. Por receio de estar só. Mesmo estando desde o início. Habituei-me a não procurar como fui procurada. Acostumei as pessoas a considerar-me um exemplo de auto suficiência. Permiti que partissem sem saberem o estado de desespero que me era acometido. Muito mais pelo fracasso que pelo término. Pensei tanto, e nos mínimos detalhes, em como proceder para ser realmente amada pelo que realmente sou, sem ter noção de que o real estava no meu imaginário e que, apenas eu, só eu sabia que cara ele tinha. Sozinha na minha luta por superar, fiz uso excessivo da recordação dos maus momentos. É mais fácil esquecer assim. E quando tive a prova de que os sentimentos evaporaram-se por completo, percebi que não sobrava mais nada além de amargura e ceticismo. E o cansaço. E um todo de desilusão.

Passados os dias de reflexão à que forçosamente me impus, fui deixando de lado o rancor. Pesando os prós e os contras do ainda ser alguma coisa de quem lentamente deixou de ser algo para mim. Não posso dizer que me isolei por completo. Que não tive ajuda. Que não procurei alternativas de felicidade. E que não as encontrei. Tendo em vista que sorri muito mais do que eu esperava. Que chorei bem menos que o previsto. Que encontrei alegria nos meus pequenos prazeres. Que conclui serem verdadeiros. Assim como muito do que fiz. Do que senti. Do que fui. Apesar da farsa, do dramalhão e do desejo de vingança.

Aos meus ex-amores, queria dizer que não os odeio. Não os quero mal. Mas devo confessar, também, não querer mais nada. Do passado. Do que não mudou. Queria dizer-lhes que os perdoei. Mas é mentira. Mesmo porque, alguns nunca pediram desculpas. Vai ver acham que não fizeram nada além de seguir adiante. Assim como estou fazendo agora. De maneira egoísta. Até mal educada. Se passo direto sem cumprimentar é porque não tenho vontade. Se não atendo aos telefonemas é porque não quero. Não é por ódio. Ou represália. É por puro e espontâneo desejo de preservação. À quem negligenciei durante essa jornada, perdão. Você sabe que te amo nessa e em qualquer outra vida que nos encontrarmos.

Ainda acredito nos pais que amam seus filhos incondicionalmente. Nos amigos atemporais. No companheirismo dos irmãos. Na paixão dos enamorados. Ainda me enternecem as histórias de amor, os corações partidos, os que erram, os que se arrependem, os que transformam-se. Ainda estou sendo, assim como sempre estaremos. Procurando algo que, aos poucos, vou encontrando: paz de espírito. Permitindo-me deixar levar pelo inesperado. Ainda que sentido-me conectada à tão poucos. Tentando viver sem acreditar piamente na máxima escrita pelo autor Gabriel Garcia Márquez, em seu livro Cem Anos de Solidão. "Pois
quem nasce sobre a estirpe dos solitários, não tem uma segunda chance na Terra". Fazendo-me valer, entretanto, e sempre, dos dizeres de Alexander Supertramp: "A felicidade só é verdadeira quando compartilhada". Mas essa daí... bem... é conversa para outro dia.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

"Feliz é a inocente vestal! Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Toda prece é ouvida, toda graça se alcança"

Alexander Pope

Eu não gostei. Da primeira vez que vi. Dormi em alguns trechos. Achei confuso e metido a "diferente". Pretenciosamete chato. Porém, ao findar do enredo, quatro coisas não saiam da minha cabeça: a cena do rio congelado, a linda trilha sonora, uma citação, e a palavra Tangerine.

Tangerine... Tangerine! Estou para conhecer alguém que não soletre, assim, quase que mecanicamente - e, na maioria das vezes, com uma boa dose de doçura nos lábios - as sílabas que formam o apelido de umas das personagens mais carismáticas dos últimos anos. "Tangerine!". Quase um mantra. Reconhecimento imediato. Demonstração espontânea e adorável de que sim, o quebra cabeças habilmente escrito pelo roteirista Charlie Kaufman causou impacto. Sim. A colcha de retalhos sensivelmente dirigida pelo francês Michel Gondry tem seu valor. Sim. Kate Winslet está fantástica, crível. Sim. Jim Carrey nunca mais atuará tão bem. Sim. Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças mexeu com você.

Foi amor à segunda vista. Terceira vista. Bem, tantas vistas já vistas que nem me recordo mais. Sim. Eu fui fisgada. Sou irremedialvelmente apaixonada por esse filme. Lembro como se fosse hoje. O nó desfeito ao fim da projeção. Aquela agonizante sensação de flagrante. Sim. Eles entendiam. Nós sabíamos. Agora éramos amigos de fato. Cúmplices de uma estória universalmente conhecida. Por aqueles que viveram amores. Grandes. Pequenos. Para a vida toda. Por ap
enas um dia. Platônicos. Reais. Por aqueles que já se apaixonaram como se fosse pela última vez, mesmo sendo a primeira. Como se fosse a primeira vez, mesmo sendo pela mesma pessoa.

Não sou muit
o afeita a fazer resumos de filmes. Mas esse é especial. Então aqui vamos nós. Joel (Jim Carrey) é, aparentemente, um cara pacato. Em uma manhã como dessas quaisquer, ele vai ao estacionamento do prédio em que mora e encontra a porta do seu velho carro um tanto quanto bem amassada. Ele não entende como aquilo pode ter acontecido. Não recorda-se de ter-se envolvido em acidente algum. Terá sido algum vizinho? Sem muitas delongas, dirige até a estação de trem, onde iria aguardar na plataforma, já atrasado e estranhamente ansioso, o transporte chegar. Num ato impulsivo, resolve mudar a rota de seu destino, faltar ao emprego e deixar que o dia lhe revele as boas(?) novas. E é por causa desse seu comportamento tão atípico (Joel nos conta sobre a sua aparente inaptidão em tomar decisões repentinas) que o moço tímido conhece Clementine, seu, aparentemente, total oposto. Desinibida, a bela estranha de cabelo azulado se apresenta ao nosso protagonista com uma naturalidade de dar inveja. Dessa maneira, apesar das aparentes diferenças, os dois decidem levar aquele encontro aparentemente casual adiante. Trocam ligeiras confidências, fazem um "piquenique" ao luar e, na volta para casa, Clem decide dormir no apartamento de Joel. Mas antes disso, precisa pegar sua escova de dentes em casa. Enquanto espera a moiçola, alguém bate à janela do automóvel de Joel e o pergunta de forma surpresa, o porquê de ele estar ali. Sem resposta, vai embora e deixa o cara com uma pulga atrás da orelha. Ao voltar, Clementine abre uma correspondência que foi enviada para ela, de uma tal empresa chamada Lacuna. Dentro do envelope uma fita de aúdio e um pequeno memorando. O conteúdo destes deixa os dois confusos. Tamanha é a estranheza de Joel que o mesmo exige que a protagonista desça do carro e vá embora para sempre.

E então: BUM! O quadro que se config
ura aos nossos olhos é a de um Joel às lágrimas, desesperado, tremendo, quase sem conseguir lidar com a direção do seu veículo. Dessa vez quem fica sem entender nada somos nós. O que acabara de acontecer não haveria de ser suficiente para causar tanta dor. Não. Não mesmo. Com o decorrer dos minutos precedentes, a estória se passa praticamente toda no cérebro de Joel , através de suas lembranças e o embate poético entre razão, emoção e o amor que permanece intacto, seja lá qual for o orgão que o abriga.

Durante sua epopeia (e daqueles que tentam atrapalhadamente apagar algumas de suas memórias), Joel recorda momentos que marcaram a relação turbulenta entre Tangerine e ele. Discussões aparentemente bobas que se transformam rapidamente em brigas homéricas; brincadeiras de casal, na intimidade de um quarto; estripulias dos que se gostam, no meio da multidão; o pavoroso silêncio que vez ou outra acomete os que entre si interagem; o silêncio cúmplice; palavras que nunca poderiam ter sido ditas; as que deveriam ter sido ditas. Mas sei lá, a gente acaba não dizendo.

"Começo, me
io e fim". Um conto aparentemente simples sobre dois seres humanos aparentemente simples, com vidas aparentemente simples, mas que, com certeza, nos conquistam exatamente por isso. Clementine é impulsiva, neurótica, instável. Joel é reservado, racional, passivo. Um muito de tudo aquilo que fomos, somos e seremos. Pois ninguém é totalmente Joel o tempo todo. Ninguém é Clementine o tempo todo. Nem eles o são. Mas uma coisa parece unânime: é que no fim das contas, o que fica mesmo, são os sorrisos entrecortados, os olhares carinhosos, desconfiados e cheios de segredos, e a dor que acompanha os que se permitem amar, uma, duas, três, infinitas vezes. Com todos os benefícios e malefícios que acompanham o produto. Sem troca. Sem devolução. Muito menos garantia.



Título Original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Tempo de Duração: 108 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2004
Site Oficial: www.eternalsunshine.com
Direção: Michel Gondry
Roteiro: Charlie Kaufman, baseado em estória de Charlie Kaufman, Michel Gondry e Pierre Bismuth
Produção: Anthony Bregman e Steve Golin
Música: Jon Brion

terça-feira, 5 de maio de 2009

No futuro do pretérito mais que imperfeito


Eu amei.

Amei o que ele foi um dia.
O que eu fui um dia.
Cada milímetro.
Do que poderia ter sido.
Do que eu poderia ter sido.
Do ele poderia ter sido.
Do que nós poderíamos ter sido.

Amei o se.
O talvez.
O quem sabe.

Amei uma idéia.
Um potencial.
Amei o vazio.
Pois o que não foi acabou nunca sendo.

Amei o difícil.
O trágico.
Amei sofrendo.
Doendo.
Roendo.

Amei a risada.
O suor.
O hálito.
O olhar.
A lágrima.

Amei o que pensava ser só meu.
O que pensei ser só seu.
O que nunca foi de nós.
O que sempre foi deles.

Amei por um dia.
Uma hora.
Um minuto.
Um segundo. Seguinte.

Não amava mais.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Quem tem Carmelo não precisa de Pemberley



Putz! As Segundas-Feiras tem sido dias difíceis. Muito mais por mim mesma do que qualquer outra coisa. Acordar de manhã, sempre cansada, de mau humor e com ressaca. Nem me pergunte do que. Só sei que hoje, por exemplo, estou sendo uma má companhia pra quem quer que seja. Isso, claro, se nós considerarmos o fato de que já fui, sou ou serei uma pessoa legal pra se ter ao lado.


Sei que isso pode ser mais unânime do que imagino. Essa sensação incômoda e permanente de que o ontem poderia ter esperado um pouquiiiiiiinho mais pra se tornar o agora. Principalmente quando tivemos um final de semana, daqueles... porretas, sabe. Com festa ou sem festa. Com gente ou sem gente. Afinal, pra que uma data se transforme naquele momento bacana, basta que você consigo mesmo, tenha sido feliz durante boa parte das 24 horas que o ser humano disponibilizou no tempo e nomeou como dia. Né não? E quando temos uma vida "social" badalada, repleta de
nights, sessões de cinema, bate papos e por aí vai, ao término oficial de mais um Domingo, ao abrir os olhos de uma Segunda que se anuncia, fechamos os nossos e nos perguntamos porquê. Tem que acabar. Por que, heim?

Vai ver é por causa dessa ditadura do quando se pode ser e fazer. Gente responsável só se diverte depois que o trabalho da sexta termina. E olhe lá, viu? Se tiver coisa pra fazer em casa nem pense em locar aquele filminho e se esparramar num canto com o pacote de biscoitos que você passou a semana inteira querendo devorar mas não o fez!
Olha dieta rapaz! Ir NAquele lugar ou encontrar AQuela pessoa? Nananinanão! Primeiro os deveres. Os prazeres podem esperar. Se você tiver a sorte de ainda ter algum pra chamar de seu. Às vezes, programamos e racionalizamos tanto, que até a diversão deixa de ser divertida. Ao passo que aquela, sem que nos demos conta, já virou, também, mais uma de nossas obrigações.

Obrigação. O-bri-ga-ção. Algo que fazemos contra nossa vontade? Somos o-bri-ga-dos, ora essa!
De nada, mas faz parte da minha rotina, fazer o que? Ah, sei lá. Muda de ares. Muda de curso. Muda de emprego. De companheiro. De casa. Muda de jeito. No meio dessa crise? As coisas não estão fáceis não, meu bem. Tás louca? Talvez, eu sempre fui um pouco louca. Mas olha, vai ver você tem razão. Tem coisas que são assim mesmo, a gente precisa delas no dia a dia. Esse é o mundo real, boneca. Quer viver num conto de fadas, vai pra Disney. Eu não! Com essa gripe suína por aí? Deixa eu aqui mesmo, deixa. E sai pra lá com essa visão quadrada de final feliz gringo, ok? Quer dizer... oxente! Ah! Tu entendeu! É que eu só queria que todo dia fosse que nem sábado à noite. Pois eu não... sábado à noite chego em casa tão cansada do trabalho que só penso em dormir... E eu? Que podia estar com meu ficante se ele já não estivesse com a namorada dele? Pior sou eu, que tenho grana mas não tenho com quem sair... Minha filha, com quem sair eu tenho, mas cadê a bufunfa? Ué, vai pra praça conversar. Com essa violência? Vai pra net teclar! Com todo mundo na rua? E quem falou aqui em todo mundo? Todo mundo é gente demais, congestiona a rede. Rede? É até uma boa, visse? É! Leva um livro pra ler, uma música pra ouvir, um sono pra dormir e um sonho pra sonhar. E pode ser na Terça, na Quarta, na Quinta, na Sexta, no Sábado, no Domingo. E na Segunda pode? Pode. Se puder pode. Tu pode? Eu? Eu posso. Agora, agoooora, não. Porquê? Umas coisas aí pra fazer. Mas tem que ser nesse instante? Já era pra ter sido! E porque não fez logo? Eu tava aqui. Não era melhor ter feito o que era pra ser feito logo não? Era nada.

Eu invejo a Elizabeth Bennet. Nessas horas de isolamento, ela vai caminhar. Pra espairecer. Como tantas vezes eu fiz antes. Como muitas vezes farei adiante. A diferença é que ela tem Pemberley. Eu, do meu lado, tenho Recife. Quem precisa de lá quando se tem aqui? Tá! Me engana que eu gosto! Mas nem é essa a questão. E é o quê? Só estou com preguiça. Então pára de reclamar e vai resolver o resto do teu dia! Vou sim. Farei. Façamos! E a coerência, onde fica? Coerência? Quê? Não vai terminar o que tava escrevendo lá em cima? Eu não terminei não? Não! Tem que terminar! Ih! Eu já esqueci.


sábado, 18 de abril de 2009

Vixe!



"Como eu tô gorda hoje!!!"



terça-feira, 14 de abril de 2009

A culpa foi do Gus


Todos temos memória. Lembranças. Boas, ruins. Não importa a sua natureza. A verdade é que temos guardado dentro de nós um conjunto tão imenso de recordações que seria impossível computarmos todas da mesma maneira, com a mesma precisão, lógica e significado. Algumas delas, escondemos no fundo de uma caixinha e lacramos. Ninguém tem acesso à elas. Chegamos a quase esquecer que existem. Quase. Porque de quando em quando, a vida, essa caprichosa, nos prega uma peça e, por distração, estamos cá nós a nos debater com a saudade, o remorso, o arrependimento. Nostálgicos somos os que pensamos muito, sentimos deveras e vivemos de menos os que deveríamos ter vivido demais. Acontece que não sabíamos. Ninguém nos avisou. Que poderia ser melhor. Que deveria ser melhor. Nos convenceram de que ha-ve-ria de ser. E então, o pior se fez.

Perdi o sono. Eu o tinha encontrado. E o perdi. Deitei-me por volta de duas horas da manhã do mesmo dia. Comecei a ler e o queria mais parar. Entretanto, o corpo nos avisa quando é o bastante e a mente nos alerta dos trabalhos a serem realizados, das conversas a serem travadas, dos jantares a serem preparados. Me acomodei na cama e dormi. Mas dessa vez, eu simplesmente não conseguia. Nem o chá de camomila. Ou o analgésico para a dor de cabeça. Tampouco o filme que tentei assistir. Assim como seu roteiro que incluía uma criança à beira da morte, pais sem dinheiro e uma avó desesperada em busca de uma solução. Eu deveria culpar essa estória pela minha insônia. Afinal, por acaso é todo dia que se vê uma mulher de meia idade tornando-se a "estrela da noite" de uma hora para outra? Esqueça a culinária, a literatura. Não, não. Sua arte consistia em fazer (bem) o maior número possível e impossivel de punhetas em homens desconhecidos e supostamente solitários. Nesse vai e vem, a senhora (apelidada de Irina Palm) pretendia juntar seis mil libras (eram libras ou euros? ou seriam dólares?). A cirurgia do neto se realizaria, bem como seu cotovelo de "penista" encontraria cura, e todos seriam felizes para sempre. Estou aqui prevendo o final das contas, sem saber como acabou. Antes disso, desliguei a televisão e dei início à minha luta em favor dos sonhos, do descanso e dos músculos relaxados. Que teimaram em não relaxar. Não por causa dos dissabores azedados da maratonista do prazer. Os dilemas a perturbar eram os meus.

Minha irmã, com quem divido o quarto. Ela também. Rolando entre os lençóis, mudando de lado. Ajeita travesseiro daqui, almofada de lá. Em vão. Nesses momentos, precisamos desabafar. Achar alguém que nos escute com atenção, mesmo sem as respostas que almejamos. Foi assim que continuamos a falar sobre nossas impressões à respeito do mundo, das pessoas, dos sentimentos que nos rodeia, das angústias, do tempo passado. Quando Deus e a certeza de sua existência foram citados no diálogo, eu estava esgotada, o coração a bater descompassado. Para mim era o bastante. Precisávamos parar. De falar. Porque de pensar, foi impossível. Difícil esquecer as cenas que nos chocou e que continuava a nos chocar por horas desde então. Que nos fez trazer à tona acontecimentos que provocaram dor. Que ainda provocam. As agruras da infância. As dúvidas da adolescência. As descobertas. As decepções. Maltratos. As palavras e atitudes deflagradas com a intenção de, com o objetivo de. Que feriram mais do que poderiam supor. Que marcaram mais do que se poderia imaginar. Foram planejadas? Com que intuito? Porque aconteceu? Porque deixamos acontecer? Para quê? Para quem? Para que.

Numa sociedade em que somos tão iguais e tão diferentes; em que somos
tão pobres e tão ricos. Tão um só como toda gente. Existem os que matam. Os que morrem. Os que vivem. Os que existem. Sobrevivemos conhecendo, desconhecendo, reconhecendo. Nos aliamos por gostos em comum. E pelas dores também. Pela rejeição. Muitas vezes, essa rejeição parte daqueles que menos nos conhecem ou que não conhecem nem um pouco. Sabem que somos filhos de alguém. Que tiramos nota vermelha em matemática. Que não temos namorado. Que temos muitos namorados. Que nunca tivemos. Que somos tímidos, reservados. Que, diferente de alguns, não temos a facilidade de nos comunicar com o outro. Que estamos acima do peso "ideal". Ou muito abaixo dele. Que não usamos roupas de grife. Ou só usamos as de. Que nosso pai é alcoólatra. Nossa mãe é divorciada. Que somos brancos demais, pretos demais, azedos, sem graça. Que nosso celular tem câmera. Que nem isso tem. Nem mesmo o celular. Por essas e outras, somos alcunhados, excluídos, incluídos em fofocas. Se não bastasse a aparente raiva pela estranhez, humilham apenas para se sobreporem. Chamam a atenção para os "defeitos" dos outros, mascarando os seus, mascarando-os com qualidades que julgam ser as melhores. A ignorância, a intolerância. O medo. Do desconhecido. Que não é melhor nem pior. Só não é a xerox. Daquilo que você julga legal de ser e de se ter. Ninguém o é. Até mesmo as cópias diferem umas das outras. Imagina o ser humano. O ser vivo. E porque querer que os sejam? E porque são menos dignos se não o são?

Se você convivesse com algu
ém que tivesse pelo menos umas duas das definições citadas no parágrafo anterior, ou todas elas, sei lá; se assim o fosse, você a desprezaria e contaria mentiras sobre ela? Por causa desse simples rascunho? Independentemente desse fator, ou de qualquer outro. Quem lhe dá esse direito? Você rói as unhas quando ninguém está olhando. Fala sozinho. Nunca leu um livro. Mente. Não usa desodorante. Tem chulé. Mal hálito. Isso te define? Não. Talvez. Quem sabe. Só você sabe. Só você. Não existe lei no mundo que condene por esse crimes. Porque não são crimes. São CARACTERÍSTICAS. Eu posso aceitar ou não. Mas respeitar... é obrigação. Experimente fazer isso muitas e repetidas vezes com a ajuda de outros. É engraçado? Agora experimente o contrário. E então saberá. Só você saberá. E lembrará. E sentirá. Se é que já são sabe. Se é que já não sente. Quem nunca sentiu?

Foi refletindo sobre isso e tanto mais que acabei, enfim, adormecendo, escutando a trilha sonora do filme "Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças". A culpa foi da falta de memória. Do excesso dela. Do Gus. Dos Tiros. De Columbine. E do Elefante.













Gênero
:
Drama

Duração: 81 min.
Ano de Lançamento (EUA): 2003
Diretor: Gus Van Sant
Distribuidora: HBO Films