sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cuidado: Frágil

Primeiro, aquela coceirinha gostosa, eventual, de fazer revirar os olhos. Nessas horas, nada como um bom cotonete pra ajudar a aliviar e, porque não dizer também, aumentar o prazer. Segundo, a perigosa combinação entre alergia atópica, inverno recifense e umidade, muita, muita, muita umidade.

Sempre fui meio afoita com relação à limpeza do ouvido e jamais obedeci aos conselhos dos especialistas. Fazia questão de enterrar o bastão e retirar toda a cera encontrada, sem medo de ser feliz. Cheguei ao ponto de esquecer, por diversas vezes, que o objeto encontrava-se estacionado na entrada do salão, quando de uma interrupção externa, como um chamado a ser atendido, uma porta a ser aberta, e por aí vai. Numa dessas ocasiões de perigoso esquecimento machuquei pra valer meu tímpano esquerdo. Resultado: além do sangue derramado, uma leve diminuição na audição e na fabricação da cera. Menos proteção. E mais vergonha na cara. Certo? Errado. Durante os anos conseguintes, aprimorei o ritual, acrescentando à auto limpeza elementos como tampas de caneta, limpador de cutículas, grampos de cabelo, cabo dos óculos, assim como o infalível e sempre coberto de germes, dedo mindinho. Passei da linha reta ao ângulo de 360°. Acredite, isso é possível.
Vez ou outra eu adquiria uma otitezinha mea boca. Nada que umas gotinhas de otosynalar não amenizassem. Fui levando assim, os meus inúteis 27 anos de vida, nessa existência (e tem outra?). Até que semana retrasada, la vie, essa vadia inconstante (inspiração Lost), pegou-me de jeito. De mau jeito, que se diga. Após passar 7 dias sem dormir direito, acordando de meia em meia hora, com uma dor de cabeça quase insuportável, deixei de lado a teimosia e fui-me embora pra Pasárgada. Tive a boa sorte de conseguir uma consulta de urgência, numa manhã de segunda-feira, perto de casa (valeu aê Pai, pelo plano de saúde!!!). Tá certo que eu tive de esperar uma hora e meia pra ser atendida, mas a médica foi tão gentil, e o local era tão agradável, que só pude me sentir mais do que agraciada nesse mundão imundo. Simpática, a doutôra de longos cabelos pretos e olhar doce me recebeu como que a uma conhecida de longas datas, perguntando minha idade e dizendo que eu tinha cara de bebê (ohr!). Fez as perguntas de praxe e partiu pra o exame de fato. Fiquei com receio de que ela me dissesse que eu não tinha nada, que era tudo psicológico. Tenho escutado essa afirmação com certa regularidade ultimamente, sabe. Mas não. Não era psicológico. Isso ficou bem claro quando a mesma exclamou Nossa Isabel! O negócio tá feio, viu? Péssimo! Seu ouvido direito está a ponto de sangrar! E esse esquerdo de que você se queixa mais, nem se fala!
Voltei pra casa com a incumbência de seguir rigorosamente as instruções, conselhos e proibições. Ministrar os remédios como recomendado, nada de carne de porco (nem te ligo!), 15 dias sem fone de ouvido, mergulho e lugares barulhentos. E, claro, nem pensar, mas nem pensar em usar um cotonete sequer! Fico pensando na reação da médica se eu houvesse contado-lhe que, no auge do meu desespero, até pomada de penicilina eu introduzi nos meus canais auditivos. E álcool à 70%. Ah! E soro fisiológico.Também. Foi quando fiquei mouca de vez. Me desesperei, chorei sentada na bacia sanitária, minha irmã me abraçando, dizendo que tudo ia ficar bem, que eu me lembrasse da sua última suspeita, com relação ao câncer de pulmão que ela jurava ter adquirido. E que não foi. Dos desafios, certamente o maior de todos foi ter de ficar com algodão nos ouvidos, 45 minutos, no decorrer do dia. Hmmm.. se bem que em muitos momentos, essa prática revelou-se uma dádiva. Minha justificativa para não atender aos que chamavam-me com o intuito de encher-me a paciência.
Música? Tive de me contentar com os poucos momentos em que pude ligar o rádio, durante os banhos tomados antes de dormir. Fora que Recife é uma cidade multicultural. Em cada esquina tem um techno brega a infernizar. Um forró a embalar, uma swingueira a escandalizar. E Thriller. E Billy Jean. E Beat It. Black or White. E Bad. Sim, We Are The World! Não liguei muito quando meu adorado pai sugeriu que um dos motivos da minha cruel convalescença teria sido o show de rock que assisti no Domingo anterior à minha ida ao consultório. De fato, não foi como imaginei. Não tivemos muitos hits "sonzeira". Mas escutar, de supetão, Don't Look Back in Anger (ainda que não muito bem executada), fez tudo valer a pena. E o jeito como tocaram Wish You Were Here! Deixando-nos em total estado de graça... a transceder, With or Without You... Uaaaaaaau! Contou por toda a semana do rock, sem rock em seu estado bruto. Quanto aos bastonetes satânicos? Mantenha distância.


sábado, 11 de julho de 2009

O muito do pouco que eu tenho para lhe dar


Eu acredito, melhor, eu sinto que uma das piores coisas que pode nos acontecer é vermos alguém sofrendo, ali, do nosso lado, e não podermos fazer absolutamente nada pra ajudá-la. Refiro-me não apenas às ações ditas "concretas", como também às de curto prazo, imediatistas. Um abraço apertado, um pegar na mão, uma palavra de conforto, um "vai melhorar, o tempo cura tudo".


Sou péssima no ato do consolar. Fico sem ação, simplesmente não sei o que fazer. Sinto-me uma idiota, uma inútil. É questão de falta de habilidade mesmo. Daquelas que adquirimos com a prática do receber e perpertuar. Tenho até vontade de assaltar a dor do outro, destroçá-la com toda a minha revolta e atirá-la ao mais profundo dos abismos. Sem proferir uma frase de efeito que for. Simples e prático. Imagina como seria maravilhoso poder fazer isso. Mas não dá, né? Infelizmente. Ou felizmente, sei lá. Porque se pensarmos direitinho, o sofrimento alheio não nos pertence. No sentido literal do negócio. Essa parada de se colocar no lugar do outro na tentativa de compreendê-lo é muito válida, de verdade. Talvez isso nos torne menos egoístas e mais, digamos, humanos. Só que no frigir dos ovos, por mais que tomemos para nós o pouco que nos é permitido, nunca iremos sentir na pele e no coração as aflições que não são "genuinamente" nossas. Até quando compartilhamos da mesma tragédia, do mesmo azar. Cada um reage de uma maneira distinta à um tapa na cara, à uma sucessão infinita de "nãos", à perda gradual do acreditar. Aquela besteirinha que denominamos fé, sabe. Não necessariamente religiosa. E que sem a mesma, vamos, aos poucos, perdendo a graça de viver.

É possivel continuar seguindo adiante carregando a melancolia na mochila do cinismo, bem acomodados na bagagem da precaução, posteriormente guardados no cofrinho da amargura, que fica escondidinho no depósito do ceticismo. Tá, eu sei que isso soou meio brega, mas vá lá que seja. Então. Sim, é possível. Mas é triste, num é? Sobreviver esperando o pior. Superando, passando por cima, absorvendo, tornando-se um alguém solitário, que carrega consigo a pior das solidões: àquela advinda da porcaria que as circunstâncias nos reservou.

Tem gente que é bondosa de verdade. Já inclusa a maldade inerente à todos os seres vivos. O miolo desse tipo de pessoa é recheado de gentileza, altruísmo, bem querer, compreensão, além de uma boa dose de ingenuidade. Nós percebemos só de observá-la. Nos pequenos gestos adquiridos com o passar da idade. Na preocupação com o sentimento conquistado, ou que está a conquistar. Questão de caráter, seja lá como você encare isso. Esses indivíduos costumam perdoar as cagadas jogadas em seus ventiladores com uma sinceridade bela de se observar. Acreditam em pedidos de desculpas. Sabem que estão predipostos a cometer erros. Inevitavelmente, os cometem. E, honestamente, arrependem-se. Refletem, buscam melhorar. Esforçam-se tanto que a prática acaba tornando-se um fardo, especialmente quando não correspondida. É natural, somos diferentes. Ninguém é obrigado a nos dar exatamente aquilo que oferecemos. A experiência nos ensina a termos paciência e a gostarmos do que está presente, muito mais do que poderia ser.

Entretanto, quando a exceção torna-se regra, desde sempre, desde o começo, é bem provável que a bondade transforme-se em carência. As decepções sucessivas vão minando a alma do bondoso. Um dia, ele percebe que as mesmas não o atigem com tanta força. E, antes que se dê conta, quando não há mais nada que se possa fazer, ele está morto. Outrora magoado. Hoje, entorpecido. Amanhã, desaparecido de si mesmo. Uma pena. Verdade verdadeira. Já vi de perto essa metamorfose maldita. Acompanhei alguns de seus estágios. Ocorridos com amigos, conhecidos, desconhecidos. Tentei ajudá-los da minha maneira desastrada. Escrevi-lhes cartas, pequenas mensagens. Ouvi seus desabafos. Os falados. Os silenciosos. Chorei com eles. Por eles. Por mim. Por nós. Fiz mais do que poderia e menos do que deveria. Fiz o que pude. Nem sempre é suficiente.

Como mencionei anteriormente: o outro é que sente. E é valido deixar rolar também. Mostrar que, apesar de não possuir a solução, você está do lado, respeitando o metabolismo que difere do seu. Contando piadas sem graça, cantando desafinado, dormindo tarde por causa de uma conversa inesperada. Quem sabe isso não faz diferença? Quem sabe... Ontem, passando por cima do ciúme, eu pedi ao meu Deus uma forcinha. Implorei por um pequeno milagre. Só daquela vez. Que custava? Bem, eu sabia o que poderia acontecer se não fosse atendida. Foi mesmo o máximo e o mínimo que eu pude fazer. Entre feridos, nenhum morto. Os moribundos ainda tem salvação. Eu acho. Eu sinto.
Eu vi. Pensou que não?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meu tio me deu um livro



Já tô na página 68. Logo logo vou descobrir o segredo do meu fracasso. Yep!