segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ainda reclamando, Louis?

Alguma vez, ou, sei lá, algumas vezes, na vida, nessa vida, você se viu numa situação tão degradante, ao ponto de se sentir o ser mais ridículo da face da Terra, isso levando em consideração o lugar comum de que a humanidade, em seu sentido mais amplo, e mínimo, está completamente perdida, logo se encontrar na condição de ser - humano torna o seu fardo ainda maior, e mesmo que você pense na aparente solução mais fácil, que seria a de simplesmente desaparecer, não reduz sua aflição, tendo em vista que nada, ou pouco, se sabe sobre o que vem, ou não, após o último piscar de olhos, principalmente se foi você mesmo o responsável direto por isso, o que, para muitos, significa adquirir uma passagem, na classe econômica, com condições de tempo sem total condição, para o inferno, lembrando que dizem lá ser pior que aqui, ou que aqui está pior do que lá, ou que lá e aqui é tudo a mesma coisa, sendo assim nada do que você fizer vai ser de grande valia, ou de pouca, só pra não perder o fio da meada, já perdendo, a noção, ao ponto de você sentar pra escrever, o que está escrevendo, sabendo que ninguém vai ler, só por escrever, através de uma máquina, que cisma em te deixar na mão, quando você mais precisa dela, e a simples lembrança de que um pensamento atrai, te faz concluir que o mais ideal é parar por aqui, antes que a merda bata no ventilador, o qual é tão conveniente nesse calor desgraçado, e aí você começa a pensar que na realidade, tem gente bem pior que você, de verdade, é claro, e com todo esse papo da fome, das guerras, o melhor que você pode fazer é desligar o computador, tomar aquele remedinho milagroso, deitar e esperar um novo dia, sempre velho?



É.
Eu também.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pinguinhos de Vermelho


Hoje, sei lá porque, e mais do que nunca, eu senti saudade de você. Uma falta enorme da tua companhia. Do teu jeito de ser, de me tratar, de levar a vida. Tu sempre teve essa mania de se preocupar com as coisas. Além do necessário, do esperado. Mas naquela época, tua cuca era mais fresca, mais leve.


Bons tempos eram aqueles - me confidenciasse certa vez - em que tu acordava pela manhã, corria pra cozinha, atrás daquele cheirinho de café, de ovo frito estalado, pão assado saindo do forno. Pés descalços, cabelos soltos ao vento, ainda de pijamas, tu se sentava à mesa e sorria feliz. Olhava os rostos ao redor com certa ternura e uma grande dose de respeito. Com um pouco de temor também. Afinal, eram todos tão diferentes e ao mesmo tempo... tão iguais. Quanto ao restante do dia... haviam obrigações a serem cumpridas. Nessas horas teu humor variava, tua timidez era testada ao limite, tu sabia que ia ter que se esforçar e fazer algumas coisinhas que não te agradavam de um todo. Então tu racionava e concluia que deveria ser assim com todo mundo, e que tinha era muita, mas muita sorte de ter pais que te amavam, ainda que não fossem tão gentis e atenciosos quanto tu desejava.

O melhor de tudo era quando a gente engabelava o tempo pra se encontrar lá atrás, no quintal, perto do pé de fruta-pão. Eu chegava correndo que dava gosto de ver. Tinha dias em que eu te presenteava com uma carambola, uma manga-espada docinha, que a gente rasgava com a boca e dividia, rindo dos fiapos que teimavam em enfeitar nossos dentes. Tu me olhava sem malícia, essa malícia de agora, e me perguntava se eu tinha hora pra ir. Eu sempre respondia que não, mesmo sabendo que sim. Era tua meiguice em excesso que me fazia querer ficar até não poder mais, ainda que com o estômago roncando, os olhos puxadinhos de sono. Ficar contigo era bom. Tu não tinha medo de quase nada. Tu cantava alto, gritava quando corria, mijava de rir, achava que sexo era nome de pedra. Teu único vício era bolacha cremicráquer com goiabada. Teu maior desejo era simplesmente... ser feliz.

Foi lá, sentada naquela cadeira, olhando as árvores que outrora cercaram nossa antiga escola. Que eu lembrei de tu. Pensei em te ligar, eu nunca esqueci dos sete números do telefone da tua casa, sabia? Nem do nome da rua, da cor do muro, das papoulas vermelhas, do quartinho de costura, do teu avô sentado na cadeira de balanço, da coleção de Dickens, capa vermelha, Monteiro Lobato; a bíblia da tua avó, a vizinha do lado, a "nossa" Bruxa do 71. Queria que tu me olhasse agora e me dissesse se eu sou do jeitinho que tu imaginasse que eu seria. Se é que tu um dia chegasse a fazer isso.

Acima de tudo. Eu queria mesmo era ganhar um abraço teu. Te ouvir me dizendo pra não chorar demais, pros olhos não ficarem inchados. Tenho quase certeza que dessa vez era tu que ia me arrastar pra frente da tv, saco de algodão doce cor de rosa. E eu nem ia te avisar que o Sílvio Santos enlouqueceu e mudou, de novo, o horário de Chaves.

sábado, 8 de agosto de 2009

Nem defeito, nem qualidade

Então eu sonhei assim.
Que um vampiro gostava mim.
Gostava. E amava.
E eu? Eu não gostava dele.
Nem nada.
Nada não. Tinha a tal da atração.
Mas não era por ele.
Que batia meu coração.
Eu estava afim era de um cara.
Um cara alto e de cabelos castanhos.
Quase ruivos.
E olhos cor de mel.
Ou eram verdes?
Sei lá.
Só sei que gamada eu fui.
Fui pela rua de pedras.
Pelo caminho de barro.
Pelo campo descampado.
Até chegar à beira do rio.
Onde todos brincavam.
E chamavam.
Por mim.
Mas eu não ia.
Tive medo da água escura.
Lembrei da minha infância.
Lembrei das sanguessugas.
Acontece que uma menina estabanada.
Me puxou pelo braço.
Ela queria que eu mergulhasse.
Que perdesse o medo do desconhecido.
E mesmo resistindo eu fui.
Primeiro um pé. Ponta do dedo.
Da mão. Água doce. Doce mesmo.
Doce que nem o algodão doce.
Cor de Rosa.
Da Rua Pinto Júnior, 48, Prado.
E eu ri. Ri muito.
Olhei para trás.
Meu amor me chamando.
Com mãos convidando.
Uma dança.
E a gente dançava, dançava, dançava.
Embalados por uma canção.
Que o Chico fez pra mim.
Fez não. Reescreveu.
Ah! Fez sim.
O chão úmido, de grama molhada.
Pés suspensos.
Eu mirando.
No exemplo.
Das mulheres.
Como eu.
Não mais de Atenas.
Mas que viviam pelos bravos guerreiros.
Dos belatos meus.
Que acordei.
Cantando a letra.
Ouvindo o som.
Ainda a sentir o cheiro.
Do amado.
Tu.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cuidado: Frágil

Primeiro, aquela coceirinha gostosa, eventual, de fazer revirar os olhos. Nessas horas, nada como um bom cotonete pra ajudar a aliviar e, porque não dizer também, aumentar o prazer. Segundo, a perigosa combinação entre alergia atópica, inverno recifense e umidade, muita, muita, muita umidade.

Sempre fui meio afoita com relação à limpeza do ouvido e jamais obedeci aos conselhos dos especialistas. Fazia questão de enterrar o bastão e retirar toda a cera encontrada, sem medo de ser feliz. Cheguei ao ponto de esquecer, por diversas vezes, que o objeto encontrava-se estacionado na entrada do salão, quando de uma interrupção externa, como um chamado a ser atendido, uma porta a ser aberta, e por aí vai. Numa dessas ocasiões de perigoso esquecimento machuquei pra valer meu tímpano esquerdo. Resultado: além do sangue derramado, uma leve diminuição na audição e na fabricação da cera. Menos proteção. E mais vergonha na cara. Certo? Errado. Durante os anos conseguintes, aprimorei o ritual, acrescentando à auto limpeza elementos como tampas de caneta, limpador de cutículas, grampos de cabelo, cabo dos óculos, assim como o infalível e sempre coberto de germes, dedo mindinho. Passei da linha reta ao ângulo de 360°. Acredite, isso é possível.
Vez ou outra eu adquiria uma otitezinha mea boca. Nada que umas gotinhas de otosynalar não amenizassem. Fui levando assim, os meus inúteis 27 anos de vida, nessa existência (e tem outra?). Até que semana retrasada, la vie, essa vadia inconstante (inspiração Lost), pegou-me de jeito. De mau jeito, que se diga. Após passar 7 dias sem dormir direito, acordando de meia em meia hora, com uma dor de cabeça quase insuportável, deixei de lado a teimosia e fui-me embora pra Pasárgada. Tive a boa sorte de conseguir uma consulta de urgência, numa manhã de segunda-feira, perto de casa (valeu aê Pai, pelo plano de saúde!!!). Tá certo que eu tive de esperar uma hora e meia pra ser atendida, mas a médica foi tão gentil, e o local era tão agradável, que só pude me sentir mais do que agraciada nesse mundão imundo. Simpática, a doutôra de longos cabelos pretos e olhar doce me recebeu como que a uma conhecida de longas datas, perguntando minha idade e dizendo que eu tinha cara de bebê (ohr!). Fez as perguntas de praxe e partiu pra o exame de fato. Fiquei com receio de que ela me dissesse que eu não tinha nada, que era tudo psicológico. Tenho escutado essa afirmação com certa regularidade ultimamente, sabe. Mas não. Não era psicológico. Isso ficou bem claro quando a mesma exclamou Nossa Isabel! O negócio tá feio, viu? Péssimo! Seu ouvido direito está a ponto de sangrar! E esse esquerdo de que você se queixa mais, nem se fala!
Voltei pra casa com a incumbência de seguir rigorosamente as instruções, conselhos e proibições. Ministrar os remédios como recomendado, nada de carne de porco (nem te ligo!), 15 dias sem fone de ouvido, mergulho e lugares barulhentos. E, claro, nem pensar, mas nem pensar em usar um cotonete sequer! Fico pensando na reação da médica se eu houvesse contado-lhe que, no auge do meu desespero, até pomada de penicilina eu introduzi nos meus canais auditivos. E álcool à 70%. Ah! E soro fisiológico.Também. Foi quando fiquei mouca de vez. Me desesperei, chorei sentada na bacia sanitária, minha irmã me abraçando, dizendo que tudo ia ficar bem, que eu me lembrasse da sua última suspeita, com relação ao câncer de pulmão que ela jurava ter adquirido. E que não foi. Dos desafios, certamente o maior de todos foi ter de ficar com algodão nos ouvidos, 45 minutos, no decorrer do dia. Hmmm.. se bem que em muitos momentos, essa prática revelou-se uma dádiva. Minha justificativa para não atender aos que chamavam-me com o intuito de encher-me a paciência.
Música? Tive de me contentar com os poucos momentos em que pude ligar o rádio, durante os banhos tomados antes de dormir. Fora que Recife é uma cidade multicultural. Em cada esquina tem um techno brega a infernizar. Um forró a embalar, uma swingueira a escandalizar. E Thriller. E Billy Jean. E Beat It. Black or White. E Bad. Sim, We Are The World! Não liguei muito quando meu adorado pai sugeriu que um dos motivos da minha cruel convalescença teria sido o show de rock que assisti no Domingo anterior à minha ida ao consultório. De fato, não foi como imaginei. Não tivemos muitos hits "sonzeira". Mas escutar, de supetão, Don't Look Back in Anger (ainda que não muito bem executada), fez tudo valer a pena. E o jeito como tocaram Wish You Were Here! Deixando-nos em total estado de graça... a transceder, With or Without You... Uaaaaaaau! Contou por toda a semana do rock, sem rock em seu estado bruto. Quanto aos bastonetes satânicos? Mantenha distância.


sábado, 11 de julho de 2009

O muito do pouco que eu tenho para lhe dar


Eu acredito, melhor, eu sinto que uma das piores coisas que pode nos acontecer é vermos alguém sofrendo, ali, do nosso lado, e não podermos fazer absolutamente nada pra ajudá-la. Refiro-me não apenas às ações ditas "concretas", como também às de curto prazo, imediatistas. Um abraço apertado, um pegar na mão, uma palavra de conforto, um "vai melhorar, o tempo cura tudo".


Sou péssima no ato do consolar. Fico sem ação, simplesmente não sei o que fazer. Sinto-me uma idiota, uma inútil. É questão de falta de habilidade mesmo. Daquelas que adquirimos com a prática do receber e perpertuar. Tenho até vontade de assaltar a dor do outro, destroçá-la com toda a minha revolta e atirá-la ao mais profundo dos abismos. Sem proferir uma frase de efeito que for. Simples e prático. Imagina como seria maravilhoso poder fazer isso. Mas não dá, né? Infelizmente. Ou felizmente, sei lá. Porque se pensarmos direitinho, o sofrimento alheio não nos pertence. No sentido literal do negócio. Essa parada de se colocar no lugar do outro na tentativa de compreendê-lo é muito válida, de verdade. Talvez isso nos torne menos egoístas e mais, digamos, humanos. Só que no frigir dos ovos, por mais que tomemos para nós o pouco que nos é permitido, nunca iremos sentir na pele e no coração as aflições que não são "genuinamente" nossas. Até quando compartilhamos da mesma tragédia, do mesmo azar. Cada um reage de uma maneira distinta à um tapa na cara, à uma sucessão infinita de "nãos", à perda gradual do acreditar. Aquela besteirinha que denominamos fé, sabe. Não necessariamente religiosa. E que sem a mesma, vamos, aos poucos, perdendo a graça de viver.

É possivel continuar seguindo adiante carregando a melancolia na mochila do cinismo, bem acomodados na bagagem da precaução, posteriormente guardados no cofrinho da amargura, que fica escondidinho no depósito do ceticismo. Tá, eu sei que isso soou meio brega, mas vá lá que seja. Então. Sim, é possível. Mas é triste, num é? Sobreviver esperando o pior. Superando, passando por cima, absorvendo, tornando-se um alguém solitário, que carrega consigo a pior das solidões: àquela advinda da porcaria que as circunstâncias nos reservou.

Tem gente que é bondosa de verdade. Já inclusa a maldade inerente à todos os seres vivos. O miolo desse tipo de pessoa é recheado de gentileza, altruísmo, bem querer, compreensão, além de uma boa dose de ingenuidade. Nós percebemos só de observá-la. Nos pequenos gestos adquiridos com o passar da idade. Na preocupação com o sentimento conquistado, ou que está a conquistar. Questão de caráter, seja lá como você encare isso. Esses indivíduos costumam perdoar as cagadas jogadas em seus ventiladores com uma sinceridade bela de se observar. Acreditam em pedidos de desculpas. Sabem que estão predipostos a cometer erros. Inevitavelmente, os cometem. E, honestamente, arrependem-se. Refletem, buscam melhorar. Esforçam-se tanto que a prática acaba tornando-se um fardo, especialmente quando não correspondida. É natural, somos diferentes. Ninguém é obrigado a nos dar exatamente aquilo que oferecemos. A experiência nos ensina a termos paciência e a gostarmos do que está presente, muito mais do que poderia ser.

Entretanto, quando a exceção torna-se regra, desde sempre, desde o começo, é bem provável que a bondade transforme-se em carência. As decepções sucessivas vão minando a alma do bondoso. Um dia, ele percebe que as mesmas não o atigem com tanta força. E, antes que se dê conta, quando não há mais nada que se possa fazer, ele está morto. Outrora magoado. Hoje, entorpecido. Amanhã, desaparecido de si mesmo. Uma pena. Verdade verdadeira. Já vi de perto essa metamorfose maldita. Acompanhei alguns de seus estágios. Ocorridos com amigos, conhecidos, desconhecidos. Tentei ajudá-los da minha maneira desastrada. Escrevi-lhes cartas, pequenas mensagens. Ouvi seus desabafos. Os falados. Os silenciosos. Chorei com eles. Por eles. Por mim. Por nós. Fiz mais do que poderia e menos do que deveria. Fiz o que pude. Nem sempre é suficiente.

Como mencionei anteriormente: o outro é que sente. E é valido deixar rolar também. Mostrar que, apesar de não possuir a solução, você está do lado, respeitando o metabolismo que difere do seu. Contando piadas sem graça, cantando desafinado, dormindo tarde por causa de uma conversa inesperada. Quem sabe isso não faz diferença? Quem sabe... Ontem, passando por cima do ciúme, eu pedi ao meu Deus uma forcinha. Implorei por um pequeno milagre. Só daquela vez. Que custava? Bem, eu sabia o que poderia acontecer se não fosse atendida. Foi mesmo o máximo e o mínimo que eu pude fazer. Entre feridos, nenhum morto. Os moribundos ainda tem salvação. Eu acho. Eu sinto.
Eu vi. Pensou que não?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meu tio me deu um livro



Já tô na página 68. Logo logo vou descobrir o segredo do meu fracasso. Yep!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Who's bad?

O Michael Jackson mórreu. Fiquei chocada, mas com aquele sentimento de que mais cedo ou mais tarde isso poderia acontecer. A gente sabia que ele nunca foi um exemplo de ser humano saudável. Pelo contrário. Foram tantas as doenças, confirmadas ou não. Problemas de ordem pessoal que tornaram-se mais públicas que a vida sexual da Paris Hilton. Não é de se admirar que depois de tanta merdalhada excretada, o Rei do Pop fosse destronado por um ataque cardíaco. O coração suporta muita coisa, mas quando a cabeça é tão bagunçada quanto o guarda roupa da minha irmã, a coisa complica pra valer.

Por falar nela, estávamos a vagabundar na frente da televisão, agora pouco, quando o aparelho do quarto da minha mãe (que sempre se encontra em volume equiparável ao das carroças que vendem cd's piratas nas ruas) começou a despejar no ar mais e mais músicas do astro. Desde ontem tem sido assim. Quando alguém beeeeeeeem famoso como ele "desaparece" (eu odeio quando dizem isso; fulano desapareceu... parece até que foi sequestrado, que nem o Narcisinho) e um canal não passa 24 horas falando sobre o fato, estranhamos. Afinal, nós, que possuimos um lado voyeur e fofoqueiro para tudo que se possa supor, queremos saber cada detalhe. Como foi, está sendo e será. Mas pelo amor de Deus. Chega um momento que a super exposição enche o saco. E o de Cecília já transbordou. Não à toa, ela se vira pra mim e pede desculpas por não suportar mais ouvir uma noticiazinha, musiquinha ou coisinha que fosse sobre a vida e morte do eterno menino prodígio que nunca quis virar adulto. Eu sou um monstro por pensar assim? Respondi com risadas, das risadas que ela conhece como um eu entendo você. Fiquei pensando. Em todas as palavras que utilizamos para exprimir o que sentíamos cada vez que um escândalo era anunciado nos últimos anos. Repulsa, pena, descrença, e por fim, esperança. De que o mundo que o admirou e idolatrou pudesse voltar a sentir orgulho pelos acontecimentos que o moldaram e transformaram em um artista máximo naquilo em que era um verdadeiro especialista.

Mas... agora ele se foi. A morte desse e de muitos outros ídolos tem seu lado bom e ruim. Perde-se a lacuna do futuro, exalta-se o brilhantismo do passado e esquece-se a tragédia do presente. Sabe minha irmã... não acho que você seja um monstro. O falecido sim. Esse o era e sempre será. Um monstro sagrado da música, da dança e das inovações midiáticas. E é isso que importa agora.



Thriller, 1982.